A aterrorizante mudança de trilhos de Dead Space 3
Continuação se tornou jogo de tiro ruim e, com a perda de personalidade do protagonista, se tornou um núcleo de mecânicas que não se justificam sozinhas.
Dead Space 3Kotaku | Por Marcus Oliveira de Kotaku |
O marketing e os trailers de Dead Space 3 já estavam nos preparando para um jogo totalmente estranho à série, e as primeiras notas do tema musical denunciam o que mudou. Se você conhece os jogos anteriores, entra esperando notas agudas, longas e aflitivas que penetram lentamente no seu cérebro, como uma aranha escalando pela sua orelha. Mas recebe um tapa orquestrado e barulhento na cara. “Esse jogo é treta, cara. É explosão, é tirinho, é corre-corre”, grita a trilha sonora.
No meio dessa gritaria, surge a EA com suas burocracias incômodas. Ela quer a sua garantia de que tudo o que vier além daquele ponto é dela, só dela e de mais ninguém. Abandonando qualquer tentativa de sutileza, a empresa simplesmente invade a tela inicial do jogo e fala “assine aqui, ou vá embora”. Assine os termos de serviço. Assine o contrato de usuário. Quer receber emails de EA? Quer se conectar ao Origin? Ah, você quer, sim. Olha, nós investigamos o HD do seu videogame e descobrimos que você joga Mass Effect 3, então vamos dar essa armadura de presente. Viu como somos legais? Enquanto encaramos toda essa burocracia forçada e entediante, a orquestra continua bombando ao fundo. É como preencher o Imposto de Renda ouvindo Vomit Erection.
Quando a opção play finalmente dá as caras, você já está desnorteado. O que é isso? O que eu estou fazendo aqui? Por que tantas animações cheias de frescura só para entrar em um menu de opções? Nada daquilo parece ter sido feito pelas mesmas pessoas que, em 2008, criaram um dos melhores jogos de terror espacial de todos os tempos.
O novo Dead Space é um co-op, um shooter, um pancadão protagonizado por Isaac Clarke. Não o mesmo engenheiro solitário que sobreviveu duas vezes a criaturas bizarras e grotescas no espaço. Outro Isaac. Sargento Isaac, que sabe flanquear o inimigo e pedir suporte aéreo para o Oscar Delta Bravo Mike. Mais um soldadinho para esse mundo em que “watch your six” já virou “bom dia”.
Dead Space 2 |
Isaac perde qualquer personalidade que havia conquistado em Dead Space 2. Ele vira o veterano que precisa sair da sua aposentadoria para salvar o mundo da ameaça terrorista. Um Rambo, um John McClane, um Capitão Price. Ellie Langford, a outra sobrevivente de Dead Space 2, também morre aqui: vira mera ferramenta para dar continuidade à história.
Logo você está lutando contra soldados uniformizados de um culto fanático religioso. Se eles estão vivos e usam armas ou se eles estão mortos e deformados não importa muito. Todo inimigo em Dead Space 3 parece apenas mais um soldadinho para levar headshot. Sim, headshot mesmo. Esse lance de cortar membros é muito complicado, perda de tempo.
Mas o problema não é a falta de terror, nem o foco no tiroteio. Dead Space 3 poderia ser um bom shooter de ação com um co-op divertido se tivesse sido pensado desde o começo dessa maneira, mas a tentativa da Visceral de manter uma certa identidade para a série torna isso impossível. O problema, de verdade, está em mudar todo o contexto sem aperfeiçoar as estruturas básicas e mecânicas dos jogos anteriores.
Dead Space 3 |
Na ação, o jogo se comporta exatamente como os anteriores. Você corre, mira, atira, corre mais um pouco para fugir dos inimigos e repete. Não há um sistema eficiente de coberturas como o de um Gears of War, o que fazia sentido num jogo de terror em que o foco é o desamparo e a ameaça constante de ser cercado por monstros. Mas agora existem soldados armados, atirando em você o tempo todo, e não temos uma maneira eficiente de nos proteger.
A interface em tempo real também perde o sentido. A tensão de trocar de armas ou usar itens enquanto você podia ser atacado por monstros a qualquer momento era incrível em Dead Space 1 e 2. Em Dead Space 3, essa tensão é substituída por urgência. As surpresas e sustos são muito raros, e você quase sempre tem um aviso prévio de quando as batalhas vão começar. Controlar um menu de inventário no melhor (ou pior) estilo survival horror quando você está sendo atacado por soldados armados é, na melhor das hipóteses, desengonçado.
Dizem que Dead Space não sobreviveria apenas de terror, que era bom a Visceral expandir as temáticas para manter a franquia em pé. Mas o que vemos em Dead Space 3 é justamente o contrário disso. Tudo o que fazia Dead Space ser Dead Space foi amputado do jogo. Sobrou um núcleo de mecânicas que não se justificam sozinhas, misturado com um recheio improvisado de militarismo e tirinho pelo tirinho.
Chegamos ao ponto em que a maior ousadia de Dead Space 3 seria honrar os temas e o clima dos seus antecessores. Mas o resultado foi mais uma franquia sufocada pelo peso do seu próprio sucesso, assim como Assassin’s Creed e Resident Evil.
Dead Space 4 |
crr
شركة تنظيف سيراميك بالاحساء
ResponderExcluirشركة تنظيف ستائر بالاحساء
شركة تنظيف مفروشات الاحساء